Metrô de SP apaga grafites de ‘PM-coxinha’ e ‘vagão negreiro’ em Santo Amaro
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011O grafite de um “homem-coxinha”, usando uniforme da Polícia Militar e perseguindo pessoas com um cassetete em punhos, foi apagado pelo Metrô de um muro do canteiro de obras da futura estação Adolfo Pinheiro, no bairro Santo Amaro, zona sul paulistana.
Outra imagem também incomodou o órgão: ela fazia alusão à escravidão e trazia os dizeres “todo vagão tem um pouco de navio negreiro”. Os dois trabalhos acabaram cobertos por uma tinta verde.
Os grafites são parte de um projeto feito pelo Sesc Santo Amaro, com apoio do Metrô.
Ele foi coordenado pelos grafiteiros Rui Amaral e Mauro Sérgio Neri da Silva, que chamaram 40 artistas da zona sul de SP para fazerem seus trabalhos no muro, nos dias 11 e 12 de novembro deste ano.
No final do mês, eles foram surpreendidos com a alteração nos trabalhos que, segundo Amaral, já tinham sido aprovados pelo Metrô. Os outros grafites ficaram intactos.
“Eles decidiram que apagariam e apagaram. Não houve a preocupação de estabelecer um diálogo com a gente”, disse Beto Silva, 30, autor do grafite do “PM-coxinha”.
CENSURA
Beto classifica a atitude como censura e diz que o trabalho é uma crítica social bem humorada sobre atitudes violentas da Polícia Militar.
Popularmente, os PMs são vistos como comedores de salgados em bares e lanchonetes. Por isso, ganharam o apelido de “coxinha”.
Os grafiteiros acreditam que houve um pedido da PM para que a imagem fosse retirada. A PM nega qualquer intervenção nos grafites.
“Quando o Metrô foi averiguar a reclamação, decidiu que também não gostou do trabalho do navio negreiro e apagou”, conta Amaral.
“Fiz uma crítica saudável. Seria saudável também que eles aceitassem a crítica e a levassem em consideração”, diz Bruno Perê, 27, que fez o trabalho que comparava os vagões de trem aos navios.
O artista diz que já expôs trabalho de temática parecida no Museu Afro Brasileiro.
“Deixo claro que a censura não tem o dedo do Sesc, que sempre foi favorável ao grafite e à liberdade de expressão”, diz Rafael Spaca, coordenador do projeto pelo Sesc Santo Amaro.
A assessoria do Metrô disse que o pedido de apagar parte dos trabalhos foi feito pela administração do órgão.
Afirmou ainda que reconhece que essa postura foi indevida e que está conversando com os grafiteiros desde o início do mês para definir como será feita a recuperação.
Uma reunião deve acontecer hoje para tentar resolver o impasse. Os artistas dizem que só aceitam preencher o muro com o mesmo trabalho.
Fonte: Folha.com